Largo Paissandú
Os projetos do Centro Aberto não buscam construir novos espaços, mas, sobretudo, transformar as estruturas preexistentes
através da renovação de suas formas de uso
O mundo todo sabe que a cidade de São Paulo é um caos urbano. Se já foi ou só ouviu falar, o trânsito, a violência, o barulho, a quantidade enorme de pessoas, carros, prédios, filas, poluição é parte integrante de nossos imaginários quando falamos da grande capital econômica do país. E como frequentadora da cidade desde que me conheço por gente, ela sempre me encantou e assustou ao mesmo tempo.
Agora, sabemos que nos últimos anos houveram algumas mudanças no rumo que a cidade vinha traçando durante décadas de investimentos em um modelo já ultrapassado de urbanismo. E uma oportunidade de visitá-la novamente pôde mudar ideias sobre São Paulo que já me acompanhavam desde sempre. Especialmente sobre a região do centro, por anos estigmatizado, mas que passa por uma série de intervenções que vêm modificando a cara desse recorte urbano.
O centro de São Paulo é um setor privilegiado da cidade. A ampla oferta de empregos, a pujante dinâmica do comércio popular e especializado, o amplo serviço de transporte público, a presença dos órgãos de governo, a memória do patrimônio histórico, a ampla oferta de equipamentos culturais e de espaços públicos o singularizam.
O centro é o espaço de representação de toda a sociedade, o que o faz ser um lugar de celebração e de conflitos. Sendo assim, pensar e agir sobre a transformação da área central de São Paulo exige enfrentar o campo de projeto como um campo de negociação de conflitos, em que a coexistência pacífica seja não apenas possível, mas, sobretudo, desejável, promovendo a celebração.
A região central da cidade sofreu ao longo da segunda metade do século XX um processo de desvalorização simbólica e degradação de suas condições ambientais, paralelo à expansão da mancha urbana e o surgimento de novas regiões com funções de centralidade. O Centro passou a ser um lugar de passagem e não um espaço de estar, que convide à convivência e ao desfrute de seus potenciais e qualidades históricas. Tal configuração espacial não apenas produz uma sensação de insegurança aos usuários, como também não atende suas demandas e necessidades cotidianas. A requalificação da área central é um desafio e uma necessidade, imbuída de um inegável sentido democrático.
Largo São Francisco
Renovação das formas de uso
O projeto Centro Aberto – que tem sede justamente no Centro de São Paulo – não busca construir novos espaços, mas, sobretudo transformar as estruturas preexistentes, permitindo atividades de celebração. Os projetos buscam a ativação do espaço público por meio da renovação de suas formas de uso. Promover a diversificação das atividades – envolvendo um número maior de grupos de usuários, em faixas de tempo também ampliadas – constitui-se em um instrumento fundamental para a construção do domínio público sobre os espaços. Esse processo é capaz de promover, além da melhoria na percepção de segurança, o reforço no sentido de pertencimento e identificação da população com o Centro.
O Centro Aberto tem papel de articular as políticas públicas municipais voltadas para os espaços públicos. Neles, convergem ações de diversos órgãos municipais, como o WiFi Livre SP e a renovação da iluminação pública, o incentivo à presença de artistas de rua e comida de rua, assim como a rede de bicicletas compartilhadas e a instalação de paraciclos. Os primeiros projetos do Centro Aberto foram implantados em caráter de experimentação, como projetos piloto.
Projetos piloto são uma forma de testar novas soluções em escala 1:1 antes de fazer alterações permanentes. Ao mesmo tempo em que permitem o diálogo público e o envolvimento da comunidade, convidam usuários e potenciais usuários para o engajamento no processo de mudança da cidade com relação as suas necessidades e demandas.
Essa forma de atuação se mostrou uma ferramenta política forte na tomada de decisão, uma vez que mostra diretamente como a vida da cidade será afetada pelas mudanças. Nesse contexto, o recolhimento de dados sublinhando os efeitos das mudanças é, evidentemente, indispensável.
Este texto foi retirado na íntegra do site de Gestão Urbana da Prefeitura de São Paulo. Veja o original aqui.