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por Paulo Mendes da Rocha

Pinacoteca do Estado, São Paulo, 1993


O objetivo primordial da obra de reforma da Pinacoteca do Estado foi adequar o edifício – construído no final do século XIX para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo – às atuais necessidades técnicas e funcionais de um grande museu. O prédio foi dotado de toda a infra-estrutura necessária, com a construção de um elevador para o transporte de público e de obras; a climatização de diversas áreas; a adequação da rede elétrica e a ampliação das áreas do depósito do acervo, laboratório de restauro e biblioteca.

O projeto procurou resolver os problemas detectados no diagnóstico técnico: a umidade que paulatinamente degradava as robustas paredes em alvenaria de tijolos de barro, o plano de acesso ao edifício, e, ainda, a complicada distribuição da áreas de exposição espalhadas por inúmeras salas e organizadas a partir dos vazios internos conformados por uma rotunda central e dois pátios laterais.

Com a reforma, os vazios internos foram cobertos por claraboias planas, confeccionadas em perfis de aço e vidros laminados. Evitou-se a entrada de chuva e garantiu-se, através da ventilação, a reprodução das condições originais de respiração do conjunto dos salões internos.

Assim, foi proporcionada uma nova configuração desses espaços: no nível do chão, abriram-se salões de pé-direito triplo que possibilitaram uma nova articulação entre todas as funções; nos pisos superiores foram instaladas passarelas metálicas vencendo os vazios dos pátios laterais; no vazio central, foi construído o auditório, cuja cobertura, no primeiro pavimento, transformou-se num saguão monumental que articula, em conjunto com as passarelas, praticamente sem barreiras através dos eixos longitudinal e transversal do edifício, todos os seus espaços.

As esquadrias das janelas das fachadas internas aos pátios puderam ser retiradas e mantidos seus vãos abertos, gerando uma grande transparência, e destacando, também, as grossas paredes autoportantes de alvenaria de tijolos. Criou-se, dessa forma, uma espacialidade imprevista em todo o recinto da Pinacoteca: na sucessão dos espaços, o fluxo dos visitantes e na luminosidade recém-instaurada.

Com a nova circulação pelo eixo longitudinal do edifício, a entrada do museu foi transferida para a Praça da Luz, na face sul, modificando-se a sua implantação com relação à cidade. As varandas passaram a ser usadas como espaços de acolhimento, áreas vestibulares ainda externas, mas abrigadas e equipadas com serviços. Também foi corrigido, dessa forma, o inconveniente estrangulamento entre o prédio e a Avenida Tiradentes. O acesso dá-se, agora, a partir de um amplo recuo com relação à Praça da Luz, um espaço externo largo e contínuo, que estabelece um diálogo com o belo edifício da Estação da Luz e a animação proporcionada pelo metrô e pelo Parque.

A construção original foi essencialmente mantida como estrutura. Todas as intervenções propostas pelo projeto foram justapostas e tornadas evidentes, com um sentido de “colagem”. O aço foi o material construtivo adotado nas intervenções, com a intenção de deixar claro o contraponto entre o antigo e o novo, que se amparam de modo dinâmico.




Quer conhecer um pouco mais da Pinacoteca do Estado? Assista esse vídeo!


Texto do próprio arquiteto retirado do livro "Paulo Mendes da Rocha; projetos 1957-1999", da editora Cosac Naify.

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