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  • por Daniela Lopes

Da nossa biblioteca: Atmosferas, de Peter Zumthor


Termas de Vals, Suíça

"A qualidade arquitetônica - para mim - não significa aparecer nos guias arquitetônicos ou na história da arquitetura ou ser publicado, etc. Qualidade arquitetônica só pode significar que sou tocado por uma obra."

-Peter Zumthor


De tudo que a arquitetura pode ser, sua arte de tocar aqueles que a vivenciam é talvez o mais belo - e mais complexo - de seus papéis. Por que elas nos tocam? E mais, como nós, arquitetos, podemos tocar as pessoas com nossa arquitetura?

O arquiteto suíço Peter Zumthor parece ser um especialista em construir atmosferas. Em sua palestra sobre o assunto, proferida em uma Universidade na Alemanha em 2003, o arquiteto fala sobre as coisas que o rodeiam e o fazem ver a arquitetura de um determinado ângulo. Para ele, existe algo bastante artesanal em criar atmosferas arquitetônicas, e ao longo de sua carreira, pode-se notar nove pontos que o movem durante essas criações.


O corpo da arquitetura

A Arquitetura tem sua anatomia; um conjunto de elementos físicos que se combinam para criar a atmosfera a partir desses materiais disponíveis no mundo. Esse é o primeiro e mais imediato ponto da arquitetura.


A consonância dos materiais

Os materiais soam juntos e irradiam de forma única a cada nova combinação. É necessário a quantidade certa de madeira com a quantidade certa de pedra para que sua combinação nos incite uma atmosfera única. E o trabalho de juntar materiais é minucioso, cada um deles tem possibilidades infinitas - imagine uma pedra que podem serrar, limar, furar, cortar e polir.


O som do espaço

Cada espaço é como um instrumento: amplia e transmite os sons de uma forma única. Os sons de cada espaço tem a capacidade de nos transportar através de nossas próprias memórias, assim como os ruídos de alguém trabalhando na cozinha podem nos remeter à infância.


A temperatura do espaço

É claro que a temperatura de um espaço influencia profundamente os sentidos de quem o percorre. A escolha dos materiais e o sítio onde uma obra é erguida são os pontos que influenciam na temperatura da arquitetura, mas além disso é necessário o cuidado para temperar essa arquitetura, ou seja, encontrar o balanço perfeito entre a temperatura física e a psicológica.


The Steilneset Memorial, Noruega



As coisas que me rodeiam

A arquitetura é o invólucro de nossas vidas. Ela protege tudo aquilo que nos é caro, que além de nossa própria existência são também aquelas coisas que trazemos ao longo de nossas vidas. Objetos que contam nossas histórias e muitas vezes nos fazem quem somos. E esse ponto cabe mais ao futuro do edifício, quando o arquiteto já não tem mais controle sobre sua obra.


Entre a serenidade e a sedução

Assim como a música, a arquitetura é uma arte temporal. Ela trata de espaços e estes devem ser percorridos por quem os adentra. Eles devem trazer um balanço entre uma serenidade que permita a seu usuário sentir-se bem permanecendo ali e a sedução de fazê-lo explorar o próximo espaço.


A tensão entre interior e exterior

Na arquitetura, retiramos uma pequena porção da Terra e colocamos em uma pequena caixa. De repente existe interior e exterior, e o jogo entre esses dois dá-se através dos elementos que os fazem dialogar. A fachada de uma obra deve dizer algo sobre o que há no interior para aqueles que estão no exterior, mas ao mesmo tempo, não diz tudo.


Degraus da intimidade

Este ponto está relacionado com a proximidade e distância das coisas na arquitetura, mas não se trata meramente de escala. Tem um sentido mais corporal, abrange também a escala das coisas e sua massa. Como uma porta alta e estreita pode nos enaltecer quando a transpassamos ou os grandes portais, que orgulham quem os abre.


A luz sobre as coisas

A incidência da luz sobre as coisas é o que nos faz enxergar em primeiro lugar e, na arquitetura, como a luz incide pode mudar completamente nossa visão de um espaço. A luz é que molda a arquitetura e não deve ser o contrário, com projetos de iluminação artificial mirabolantes para dar luz a uma arquitetura já pronta e sem vida.

Bruder Klaus Field Chapel, Alemanha




Este texto foi inspirado na palestra do arquiteto Peter Zumthor proferida em 1 de junho de 2003, como parte da Festa da Música e Literatura da Universidade de Ostwestfalen-Lippe, na Alemanha. A palestra deu origem ao livro Atmosferas, publicado em 2006 pela editora Gustavo Gili, que faz parte de nosso acervo e você pode acessar aqui.

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